Formosa do Rio Preto: As agruras de um lindo rio
O rio Preto, então navegável, exuberantemente belo, nos faz lembrar da serenidade com que sinuosamente ele descia por entre as canjeranas, que, compondo a mata ciliar, faziam mais verde o verde de suas margens.
Por Revista Formosa
Dentre os que compõem a bacia hidrográfica do São Francisco, está o rio Preto, como um dos seus subafluentes, que tem sua nascente nas fraldas do Espigão Mestre, entre os estados da Bahia e do Tocantins. Dali, toma seu destino em direção à Bahia, para banhar os municípios de Formosa do Rio Preto, Santa Rita de Cássia e Mansidão, retomando seu curso normal, vai se encontrar com o rio Grande entre as serras do Pontal, formando ali, com a junção dos dois rios, um quadro de rara beleza, de onde, em comunhão, já como rio Grande, deságuam no rio São Francisco, na cidade da Barra (BA).
O rio Preto, então navegável, exuberantemente belo, nos faz lembrar da serenidade com que sinuosamente ele descia por entre as canjeranas, que, compondo a mata ciliar, faziam mais verde o verde de suas margens.
Era o rio Preto das canoas a remo, das balsas de buriti, do ajoujo de Casemiro Marques, como os primeiros meios de transporte, que cederam lugar ao vapor Jansen Melo, que, por mais de cinco décadas, singrou suas águas, fazendo a ponte Juazeiro/Formosa/Juazeiro, levando passageiros e mercadorias, até que, em 1960, após sua última viagem a Formosa, visões políticas equivocadas, aposentaram-no compulsoriamente, fazendo-o ferro-velho, sem nenhum respeito à sua história, que ele soube enriquecê-la e fazê-la credora da gratidão dos rio-pretenses, pois que não fora pequena sua contribuição ao fortalecimento comercial e econômico daquela região, integrando-se à sua cultura.
Em meio às boas reminiscências, fixamo-nos um pouco no rio Preto de ontem, porém no rio Preto de hoje, que vê ameaçado seu futuro, mais pela mão predatória do homem, do que pela inclemência das secas, é que se volta nossa preocupação, que nos faz tomá-lo como bandeira em sua defesa, de modo a evitar que tenha o mesmo destino de outros rios, aqui e alhures, como o então majestoso São Francisco, considerado o rio de integração nacional, hoje no leito da morte, clamando por socorro.
A defesa do rio Preto revigora-se mais nobre, por traduzir, na mesma linha, a defesa do meio ambiente, que se intensifica no mundo, mercê das agressões que vem sofrendo pelas ações criminosas do homem, via poluição e demais fatores agressivos à natureza, ao ponto de se constituir um dos problemas mais preocupantes da humanidade, sobretudo pela ausência de um consenso internacional à solução desejada, porém, voltando especificamente ao rio Preto, não se há de perder a esperança de colocá-lo a salvo das agruras por que vem passando, desde que nos conscientizemos de que na união dos seus defensores reside a força maior, capaz de restaurar-lhe a beleza do passado.
É lamentável o desprezo aos nossos rios, pelos governos, através dos seus órgãos de controle e fiscalização, em cumplicidade com a sociedade, considerando-se que, neles, temos uma das riquezas do planeta, quer pela água potável que serve a milhões de pessoas, quer como fonte de receita, que vai do transporte fluvial ao turismo internacional, na formação de luxuosos cruzeiros, que tanta vida dão às cidades visitadas pelos turistas. Imagine-se o orgulho de Paris, se, ao invés do rio Sena, tivesse, a emoldurá-la, o rio Preto revitalizado!
Comporta aqui uma palavra de louvor aos rio-pretenses que vêm desfraldando a bandeira em sua defesa, a exemplo da admirável campanha que marcou o Dia Mundial do Meio Ambiente pela Escola Benedito Araújo e da bela canção "A voz do rio", de Sândalo Nogueira e Laércio Correntina, ao que se junta um apelo aos governos e à sociedade, como um todo, para que reflitam e não ignorem a mensagem das Olimpíadas de 2016 para bilhões de pessoas sobre a importância da preservação ambiental.
Autor: José Paes Landim | Cronista, aposentado pelo Banco Central do Brasil/ A Tarde
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